O endurecimento das restrições ao aluguel de curto prazo em várias cidades pode abrir novas oportunidades para o setor hoteleiro tradicional, especialmente no segmento de viagens corporativas. Segundo a Global Business Travel Association, os gastos globais com viagens de negócios devem atingir US$ 1,64 trilhão em 2025, superando os US$ 1,48 trilhão de 2024. A projeção para 2026 é de aproximadamente US$ 1,62 trilhão, de acordo com estimativas da GBTA, Navan, Deloitte e GlobalData.
Nos últimos anos, plataformas como o Airbnb revolucionaram a indústria de viagens, influenciando preços, turismo, hospitalidade e infraestrutura nos principais destinos. Essa modalidade de hospedagem transformou hábitos e experiências de viajantes, mas também trouxe impactos negativos para a vida urbana. O crescimento das locações de curto prazo tem contribuído para a escassez de moradias e a elevação dos preços em cidades como Barcelona, Berlim e Nova York, gerando tensões entre moradores, turistas e autoridades locais.
Para conter os efeitos do avanço dos aluguéis de curta duração, diversas cidades têm implementado restrições e novas regras, medidas que vêm gerando controvérsias entre moradores, proprietários e investidores. O impacto já aparece no mercado: as ações do Airbnb recuaram mais de 6% após a última teleconferência de resultados, acumulando queda superior a 7% desde a divulgação do balanço.
Nesse cenário, hotéis vêm se reposicionando estrategicamente, ressaltando diferenciais que contrastam com as fragilidades das hospedagens alternativas, frequentemente associadas a riscos, falta de padronização e instabilidade. Apesar de o aluguel por temporada ainda atrair investidores, o modelo apresenta desafios como alta carga operacional, barreiras legais e renda incerta.
O cenário atual abre espaço para que hotéis atraiam nômades digitais e turistas corporativos em busca de estabilidade e infraestrutura profissional. Muitos já evitam aluguéis por temporada pela imprevisibilidade e demonstram preferência por hotéis em estadias longas. De acordo com pesquisa da Morning Consult, 61% dos viajantes corporativos escolhem hotéis em vez de aluguéis quando a permanência ultrapassa sete dias.
Segundo a Advantage Travel Partnership, as viagens de negócios também estão se tornando mais longas e com maior “propósito”, permitindo que os viajantes aproveitem melhor a experiência. Entre as comodidades que mais atraem esse público estão bar (51%), academia (51%), piscina (48%) e serviços de relaxamento (46%).
Além disso, a tendência bleisure, que combina negócios (business) e lazer (leisure) em uma mesma viagem, segue em expansão. Nesse ponto, os hotéis oferecem vantagens consolidadas: segurança, limpeza, atendimento 24 horas e um leque diversificado de opções de lazer, que vão de piscinas e spas a atividades esportivas e experiências locais.
Se antes o Airbnb se destacava por oferecer uma certa “autenticidade”, agora os hotéis também passaram a investir em experiências mais locais e personalizadas para atrair os hóspedes. Um exemplo é a Hyatt Inclusive Collection, a linha de resorts all-inclusive da Hyatt que, além de receber tradicionalmente famílias em férias, vem conquistando cada vez mais viajantes a trabalho e nômades digitais.
“Nos resorts da nossa linha, passamos a investir em experiências locais, firmando parcerias com pequenos negócios e valorizando a gastronomia regional, sem abrir mão da tecnologia, com soluções como check-in digital e serviços personalizados”, explica Antonio Fungairino, Head de Desenvolvimento das Américas da Hyatt Inclusive Collection.
A hiperconectividade também se tornou um ponto crucial para os viajantes corporativos. Embora as hospedagens por temporada geralmente ofereçam uma boa rede de Wi-Fi, não é incomum enfrentarem imprevistos que comprometem a conexão, como apagões. Já o setor hoteleiro costuma contar com geradores e, em alguns casos, oferece recursos adicionais pensando nesse público, como power banks e outras facilidades para garantir a continuidade do trabalho.
Outro diferencial é a adoção cada vez mais ampla de ferramentas digitais e baseadas em IA, que permitem otimizar gastos e dar suporte em tempo real às viagens. Reservas móveis integradas, pagamentos digitais e gerenciamento automatizado de despesas já são considerados essenciais, sobretudo quando uma empresa precisa organizar a hospedagem de grupos maiores de viajantes.
As reservas para estadias prolongadas têm crescido à medida que mais profissionais combinam negócios e lazer, com a duração média das viagens aumentando 10% desde 2023. Nesse cenário, os hotéis podem se beneficiar ao investir nesse modelo, muitas vezes com gestão terceirizada por operadores especializados, o que o torna mais prático e rentável.
As hospedagens de longa permanência oferecem vantagens como ocupação mais estável e fluxo de caixa previsível. Além disso, a operação de múltiplas unidades permite ganhos de escala e maior lucratividade. Investir em diferentes propriedades nesse segmento também ajuda a diluir riscos e enfrentar possíveis instabilidades do mercado.
De olho nesse movimento, algumas redes já lançaram marcas específicas voltadas para estadias prolongadas, apostando em maior resiliência e rentabilidade no médio e longo prazo.
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