Com idealização e atuação de Zora Santos – atriz, pesquisadora da culinária afro-mineira e cozinheira – o espetáculo O Fim É Uma Outra Coisa estreia no dia 9 de março, sábado, no Sesc Avenida Paulista, às 20h. Com direção geral de Grace Passô e de Gabriel Cândido, a dramaturgia é assinada por Dione Carlos tendo a colaboração da própria Zora Santos. O espetáculo fica em cartaz até 6/4, de quarta a domingo, no espaço Arte II (13º andar).
Em cena, Zora Santos, aos 70 anos, conduz um encontro no qual os seus saberes alquímicos e ancestrais sobre o uso dos alimentos, que nutrem, envenenam, curam e enfeitiçam, estão em um jogo de relações entre as suas memórias, seus sonhos e a influência intelectual dos povos indígenas e negros, no país em tensão com o próprio passado presente colonial do Brasil.
Por meio de uma multiplicidade de instrumentos culinários e musicais, que se confundem e se reinventam no fluxo de acontecimentos, o espetáculo performático cria uma instalação sensorial permeada por cheiros, toques, sabores e sons, instaurando um universo de possibilidades tecnológicas, estéticas, poéticas e políticas a partir da reunião de uma comunidade em torno do ato de cozinhar e comer junto. Nesse sentido, a obra reelabora as temporalidades vigentes para mostrar que nessa feitura coletiva são os outros inícios, outros meios e, principalmente, outros fins que interessam imaginar em um movimento em que as presenças se retroalimentam e se provocam para muito além de apenas comer, digerir e eliminar.
Para Zora Santos, que faz sua estreia como atriz em palco paulistano, O Fim É Uma Outra Coisa quer reverenciar a presença das mulheres negras nas cozinhas brasileiras – historicamente invisibilizadas no país. “Só sei demonstrar amor cozinhando”, afirma. O espetáculo não é uma narrativa linear e ficcional, e se organiza por meio de uma articulação de acontecimentos a partir dos saberes, das vivências e das memórias de Zora – que evoca as relações entre negrura, comida, música, arte negra e performance, tendo como inspiração os pensamentos da intelectual Lélia Gonzalez.
Dentro do espaço cênico intimista, os espectadores têm proximidade com o cenário/instalação e os demais elementos da cena, bem como do elenco liderado por Zora Santos e das musicistas e dos músicos Natália Lima, Rubi Assumpção, Renato Ihu e Michael Yuri. A música se relaciona com a presença de Zora nas cenas. As composições e a trilha sonora são originais, criadas na sala de ensaio em processo colaborativo, sob a direção musical de Maurício Badé. O cenário-instalação conta com uma obra de Lúcio Ventania, referência internacional como mestre bambuzeiro, criada especialmente para o cenário do espetáculo.
A diretora Grace Passô argumenta que “o espetáculo busca elucidar que a cultura negra e a indígena não estão em um lugar de contribuição, mas sim de estruturação da identidade brasileira”. Ambas mineiras, Grace conta sobre sua relação com o trabalho de Zora: “Minha admiração passa pelas suas articulações com os coletivos e artistas negros de Belo Horizonte e pela forma como se relaciona com a cozinha. Zora é uma artista que nos lembra que a cultura negra evidencia algo menos segmentado que a separação arte x vida. O elemento, a arte e a atuação estão sempre presentes, tudo convive em seu trabalho”. E completa: “cozinha e arte é o que representa a nossa cultura, fazem parte do ‘ser negro’, e Zora traz a comida como arte, a arte como alimento”.
Sobre a direção de O Fim É Uma Outra Coisa, Gabriel Cândido comenta: “Como a Zora é uma artista interdisciplinar, buscamos ser coerentes com sua trajetória. Entender esse espetáculo como uma instalação sensorial, como são as nossas cozinhas, esses lugares de encontros, com músicas, cheiros, sabores, temperaturas, temperos, vozes, sons… Isso foi fundamental para entender a dimensão, tanto festiva como de provocações, que queremos ter em cena”.
O Fim É Uma Outra Coisa é um espetáculo performático inédito, cujo projeto foi idealizado, em 2020, por Zora Santos. Desde então, seguiu em concepção e parceria com Lucas Ferrazza (produtor artístico e cozinheiro), Grace Passô e Dione Carlos, realizando algumas ações performáticas sobre os temas que a obra agora tem como objetivo abordar. Zora é presença relevante em eventos de culinária em Belo Horizonte, onde também desenvolveu o projeto Comida de Cerca que aborda a comida afro-mineira, sobre o qual ela metaforiza: “as cercas da minha infância eram comestíveis”, sem descartar que também refere-se às mudanças geográficas, importantes de serem discutidas.
Ficha Técnica – Idealização e atuação: Zora Santos. Direção geral: Grace Passô e Gabriel Cândido. Direção musical: Maurício Badé. Direção de produção: Lucas Ferrazza. Dramaturgia: Dione Carlos e Zora Santos. Musicistas/músicos: Michael Yuri, Natalia Lima, Renato Ihu e Rubi Assumpção. Obra Cenográfica: Lúcio Ventania. Confecção da obra cenográfica: Cerbambu. Figurino: Zora Santos. Costureiro: Paulo Salai Rogério. Desenho de luz: Danielle Meireles. Desenho e operação de som: André Papi. Identidade visual: Thaís Regina. Contrarregra: Diego Roberto e Derret. Beleza: Rapha Cruz. Hairstyle: Paola Ferreira. Fotografia: Jerê Nunes. Assessoria de imprensa: Eliane Verbena. Social media: Anderson Vieira. Coordenação de produção e produção de campo: Ketully Oliveira. Produção executiva: Corpo Rastreado e Casa Cume Produções. Realização: Sesc São Paulo.
Foto: Divulgação